NINGUÉM
DIVIDE A EDUCAÇÃO FÍSICA[1]
Aos professores do Curso de Educação
Física da UEPA, na luta pela defesa da licenciatura ampliada: “a luta só valerá
a pena se for para valer!”
A contradição é um marco do atual
modo de produção; no entanto, ela é também a alavanca para os movimentos que
apontem possíveis sínteses, rupturas e revoluções dentro das relações sociais
de países como o nosso. A Educação Física pensada enquanto um objeto do
conhecimento científico não é divisível, há uma unidade que lhe garante
enquanto totalidade.
Ações reacionárias para dividi-la
precisam ser entendidas como tentativas de reprodução do sistema, que faz dela
uma utilidade funcional para se manter hegemônico. Na contramão, os movimentos
sociais historicamente estruturados a partir da consciência da luta de classes
vêm conseguindo alguns avanços nos diversos segmentos das relações sociais de
trabalho, no contexto do trabalho capitalista.
Na formação e na intervenção
profissional da Educação Física não é diferente e o cenário aponta um grupo
contra hegemônico buscando desvelar o pensamento burguês para lhe fazer frente
e, outro, que também não é hegemônico, mas que por uma não consciência de
classe age em seu favor, já que não lhe é dado perceber que somos todos trabalhadores,
ou seja, da mesma classe social. Ocorre que o ocultamento do sujeito retira-o
da História, e sua objetivação mecânica faz com que ele não a perceba.
No embate e no debate sobre a
formação e a intervenção profissional da Educação Física brasileira temos
atravessado um período de turbulência, demarcado politicamente pela divisão na
formação, consequência da fragmentação mercantil dos espaços de trabalho, que
pressionam de fora para dentro a constituição do conhecimento a ser tratado nos
cursos de graduação e na formação que se segue.
Durante os anos de 1990 o número de
bacharelados criados sequer justificou a divisão; isso se manteve até a metade
da primeira década deste século, crescendo mesmo a partir da decisão interna e
anticonstitucional do Sistema Confef/Crefs em proibir os licenciados intervirem
nos campos escolares.
Criou-se uma representação idealizada, um
balão de ensaio que rendesse na perspectiva da previsibilidade a adesão dos
licenciados ao sistema profissional, numa manobra sobre esta massa, objeto de
cooptação ideológica. Os efeitos, no entanto, se diversificaram independente
das intencionalidades de seus promotores, impactando sobremaneira a formação
profissional.
É neste cenário que crescem quantitativamente
os bacharelados, sem que as IES tenham em seus quadros, docentes que deem distinção
no trato com o conhecimento de formações que se pretendem diferentes. Com isso,
na mesma instituição formadora em que há oferta de bacharelado e licenciatura, o
trato com o conhecimento se dá pelos mesmos conteúdos, pelas mesmas abordagens
metodológicas, pelos mesmos ensinantes e os mesmos aprendizes.
Podemos considerar ainda que diversas IES
criaram fórmulas mágicas para acoplar a formação e permitir que os egressos
tenham ambas as formações, de licenciado e bacharel. Algumas dessas fórmulas
foram estrategicamente construídas a partir das brechas dadas pelas diretrizes
curriculares, outras atropelam mesmo a tudo e a todos, mas os instrumentos
“reguladores” fazem vista grossa.
Desses e outros fatos que estão postos nas
relações da formação profissional em Educação Física, na conjunção com a
formação de professores no Brasil, coloco dois em destaque para fazer as
mediações neste momento histórico da correlação de forças no curso de Educação
Física da UEPA, para os alentos necessários aos nossos companheiros docentes e
discentes que conseguem pensar pela totalidade do objeto, pela compreensão de
que cada parte é constitutiva do todo.
Primeiro, que no campo da intervenção
profissional, na Região do Cref 14, que abarca os Estados de Goiás e Tocantins,
após dois anos de luta contra a ingerência do sistema profissional em proibir
os licenciados de atuar nos espaços de trabalho “não escolares”, movimento que
reuniu um coletivo (FEF/UFG; ESEFFEGO/UEG; DEFD/PUC Goiás; Movimento Estudantil
da Educação Física; Movimento contra a Regulamentação da Profissão Educação
Física; Secretaria Estadual do CBCE) articulado politicamente e que engajou durante
o processo o Conselho Estadual de Educação, o Ministério Público Estadual e o
Ministério Público Federal em Goiás, este decisivo no conjunto das ações que
culminaram numa liminar da Justiça Federal do Trabalho em Goiás, a qual derrubou
a inconsistente resolução do Confef.
O sistema profissional entrou com recurso e
novamente, em segunda instância, teve derrotadas suas pretensões funestas de
determinante inconstitucional para os trabalhadores da Educação Física. Neste
momento, ainda aguardamos a Justiça do Trabalho oficializar a decisão, espera
que pretendemos nos próximos dias transformar em novo movimento social, já que
neste momento histórico estamos com dois problemas localizados, para além da
UEPA, um processo movido no Rio de Janeiro, junto ao Ministério Público Federal
daquele Estado.
A licenciatura ampliada abre o segundo
destaque: pelo necessário engajamento na luta da UEPA, dado pela compreensão de
que ela se destaca como parte constitutiva desta luta, fundamental para
podermos levar adiante a proposta de formação una, generalizada, que temos
defendido como “licenciatura ampliada”, cuja consistência está na produção
acumulada de pesquisadores que se debruçam sobre a formação profissional no
Brasil, mormente no contexto do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
Pelo cenário já exposto anteriormente, ou
seja, do como está se dando a prática curricular que articula os cursos de
graduação, na conjunção de licenciatura e bacharelado, como também pela
constituição do conhecimento que vem sendo desenvolvido, dado pelas ingerências
externas ao meio acadêmico/científico, ou seja, determinado pelo processo
mercantilista que dita perfil e competência profissional, percebe-se a desqualificação
dada pela fragmentação, pela inconsistência do conhecimento teórico tratado,
que privilegia o pragmático e se apresenta pelas aparências do objeto em
discussão.
Nesse contexto, a partir da fundamentação já
discutida para a licenciatura ampliada, processo que vem se materializando pelo
país em cursos com disposição de desfragmentar a estratégia da ação positiva de
ocultar as totalidades, não muitos cursos é verdade, mas com práticas
pedagógicas que se consolidam na formação pelo movimento do currículo real.
As pesquisas compulsórias na graduação já
apontam para dados empíricos, cuja análise corrobora com a produção acumulada nos
últimos anos e que embasou os pressupostos ousados dessa licenciatura. As
pesquisas dos grupos inerentes a essas IES trarão certamente novos dados e
análises, publicações que irão emergir em anais de congressos e em periódicos;
TCCs dos cursos de lato sensu e as
dissertações e teses, em seguida, serão mostras significativas de um momento
histórico que se pretende transformador, portanto revolucionário.
Pensamos então, para encerrar essas
considerações no diálogo com os companheiros da UEPA, que a centralidade do
debate, que sustenta este embate está em transformar ou reproduzir. Por isso,
acadêmicos discentes e docentes dessa tradicional instituição formadora de
professores de Educação Física, que pensam a partir da materialidade do
contexto em causa, que não permitem que outros pensem por vocês, que acreditam
no que foi constituído pela luta no interior das relações sociais, no embate da
luta de classes, que percebem a História como referência para a formação, que
têm na docência a essência da prática pedagógica para intervir em todo e
qualquer espaço de trabalho conquistado pela Educação Física, mantenham-se pelo
coletivo, porque o coletivo, historicamente, tem se constituído por nós mesmos.
Não
quero acordar nenhum dia de minha vida sem ter o direito de me indignar com as
coisas (Michele Ortega Escobar).
[1]
Carta de apoio da
Secretaria Estadual do CBCE em Goiás (Profª Doutoranda Sissília Vilarinho Neto,
Prof. Dr. Paulo Roberto V. Ventura, Prof. Mestrando Rodrigo Roncato M. Annes,
Profª Mestranda Ana Júlia Rodrigues Carvalho, Profª Esp. Michelle F. Oliveira,
Profª Thais Messias Moraes) e do Núcleo Docente Estruturante da ESEFFEGO/UEG (Prof.
Dr. Paulo Roberto V. Ventura, Prof. Dtdo Ademar Soares Azevedo Jr., Profª Ms.
Lilian Brandão Bandeira, Prof. Mestrando Rodrigo Roncato M. Annes e Profª Esp.
Michelle F. Oliveira).
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